2013/04/27

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Keynes fala sobre suas viagens.

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Vale do Bekaa ao fundo.
A primeira matéria da coluna escrita por Skandar já foi liberada pelo jornal britânico Tab. Como correspondente estrangeiro, ele falará sobre como está sendo estudar no meio de um país que vive um conflito, e suas experiências no Oriente Médio.

A primeira matéria já foi divulgada, e conta especificamente como está sendo sua convivência no Líbano, e nos arredores do Oriente Médio, ele explica também nos mínimos detalhes uma história surreal que ele pôde presenciar no Vale do Bekaa - este que fica situado cerca de 30 km a leste de Beirute, e é uma das regiões mais turísticas do país. - Cada matéria escrita pelo ator será publicada oficialmente toda semana no site do jornal online. Traduziremos cada artigo, e disponibilizaremos no site. Leia a seguir a 1ª matéria.

Semana 1
Colunista Skandar Keynes / 27 de abril
"Em uma casa no Vale do Bekaa, tarde da noite, sem luzes à vista por quilômetros, cercada por dez homens fortes (que eu tinha conhecido à cerca de dez minutos), o homem ao meu lado puxou uma arma do cinto, e  fez a pergunta - o que  você está fazendo aqui, Skandar?"

Essa era uma pergunta que eu tive que enfrentar muitas vezes em minhas viagens, embora normalmente alguém tenha que fazer essa pergunta.

Oficialmente, eu estou estudando em um ano no exterior como parte do meu curso de graduação em árabe, persa e Estudos do Oriente Médio, aperfeiçoando (ou pelo menos tentando aperfeiçoar) meu árabe coloquial. No entanto - em um país onde o grau de não profissionais é visto como ceticismo - ao contar a alguém o que eu estudo, sou forçado a responder normalmente em seguida a pergunta: "Para que diabos você está fazendo isso?"

Um motorista de táxi enfiou na minha mente, em particular,  e passou a reclamar sobre o quão eu era estúpido por ter deixado a Grã-Bretanha, "o melhor país do mundo" (palavras dele, não minhas) para vir ao Líbano. O Líbano não é só "um beco sem-saída", um "cemitério de sonhos e possibilidades" necessitando de emigração, mas o árabe é uma linguagem "morta", e aprender é uma "perda de tempo".

De volta a Inglaterra, as pessoas me perguntam por que eu estou apostando muito em uma região tão perigosa de areias movediças. A faculdade AMES (Ásia e estudos do Oriente Médio) de Cambridge, aconselhou recentemente para que eu saísse, devido à situação política precária. Embora todas sejam respostas válidas, eles não levam em consideração as maravilhas que o Líbano tem a oferecer, a cada aventura se aguça o apetite para outras.

Retornando para casa, em o Vale do Bekaa, havia tentado esconder minha ansiedade. Quando ele guardou sua arma satisfeito ao chocar-se com um Ajnabi ("estrangeiro"), eu me senti um idiota por permitir  que me preocupasse momentaneamente. Eu deveria saber melhor do que deixar meu coração pular só porque alguém sacou sua arma no Líbano.

A história das minhas viagens é menos uma de como eu tenho viajado ao Líbano, porém, mais um conto de como eu fui recebido. Para quem está lá fora, a hospitalidade árabe é uma instituição social verdadeiramente notável.

O Vale do Bekaa, como se vê na foto, é o cenário de uma anedota bem conhecida no Líbano - um que é capaz de fazer a introdução da minha viagem:

No início da guerra civil, Deir Al-Ahmar - uma pequena vila situada nas montanhas do Líbano com vista para o Vale do Bekaa - foi atacada. Durante o assalto, os aldeões ganharam reputação de guerreiros resistentes, fazendo 17 presos no total. Depois de um aquecido debate sobre o que fazer com os ladrões, que envolveram parentes dos mortos no ataque, latindo por sangue, foi finalmente decidido que não matariam os assaltantes.

Na falta de instalações adequadas para abrigar os prisioneiros, eles foram levados para uma casa relativamente grande de uma senhora. No entanto, em vez de tratá-los como prisioneiros capturados que fizeram um ataque na sua cidade, ela os tratou como convidados, de forma habitual, ditada pelos antigos, ainda vivos, tradição da hospitalidade árabe. Ela preparou a comida que eles pediram, lavou suas roupas sujas, dando-lhes roupas limpas, por enquanto, ela cuidava a seus ferimentos da batalha, infligidos pelos filhos da sua aldeia.

Quando o chefe da milícia responsável pela segurança da vila quis questionar os seus ladrões, a velha saudável se recusou a deixá-lo entrar em sua casa, por medo dele poder ofender os seus convidados com perguntas curiosas! Recusando-se a continuar seu caminho até a casa da velha, ele não viu outra alternativa senão deixar os homens lá.

Eventualmente, um grupo da Cruz Vermelha veio e recolheu os prisioneiros, levando-os de volta ileso. Através da insistência da velha, e para a frustração do chefe da milícia, eles nunca foram questionados.
(editado)
Quando os prisioneiros voltaram para casa, eles espalharam a história de sua experiência e hospitalidade da velha. Ao longo dos 15 anos de guerra civil, ninguém de Deir Al-Ahmar tropeçou em um lugar ocupado por qualquer um dos prisioneiros libertados, pois eles foram prontamente escoltados de volta para os arredores de suas aldeias, ilesos. O significado de tal gesto foi logo me explicado: O objetivo deles, era manter um posto de vigilância, era matar, ou sequestrar alguém cuja identificação fosse de uma religião adversária.

Embora em circunstâncias muito diferentes. Eu também fui "tomado" pelo povo libanês.

— Por Skandar Keynes
(Leia o próximo artigo)

"A história apresentada pelo Skandar é muito interessante, pois nos dá a lição de aprender sobre a hospitalidade libanesa, e arábica, que é bem diferente da nossa.."
— Eduardo Lertmon

Fonte: leia matéria original no The Tab Cambridge

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