2013/02/21

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As Crônicas de Charn [Cap.VIII]

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Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos.
As Crônicas de Charn Apocalipse:
— Misterioso(a). [Capítulo VIII]

A sensação de estar ali era melancólica e tenebrosa. Algo parecido com o momento em que aguardamos impacientes na sala de espera de um consultório dentista, e assistimos expressões inseguras e medonhas daqueles que já foram consultados. No entanto, refiro-me à D.O.P.S, a prisão demoníaca que brinca com a vida dos infelizes. A aparência e condições desta eram lamentáveis. A começar pelo chão, um lago de urina, já que os prisioneiros só tinham o próprio solo para suas necessidades básicas. As paredes “choravam” lágrimas vermelhas, graças ao sangue respingado dos chicoteados. Ao redor, as tais quatro torres eram pequenas e funcionavam como cabines de vigilância interior. Sendo assim, a divisão e prisão tinha formato de um retângulo escuro, com cobertura, impossibilitado de receber os raios solares. À frente dele, um pequeno castelo, comodidade da Imperatriz Jadis, rodeado de imensas árvores e montanhas. Não é necessário dizer que nem os pássaros ousavam vadear por aquelas bandas.


A carroça fora estacionada em um local bem próximo às celas. Minutos após os prisioneiros serem obrigados a descer, foram acorrentados. Em seguida, avistaram dois adolescentes avançando; estes eram parecidíssimos, andavam descalços e com vestimentas velhas e simples. Ao verem o homem de grande porte, caçador do menino da metrópole e companhia, disseram eufóricos:

— Ora, o nosso velho pai não é de tão grande incompetência... Não é de tantos elogios, até porque nascemos e somos ordenados a aqui ficar... Mas... Necessitamos de prazer e algo para fazer! O que nos diz, pai?


— Filhos rabugentos. – respondeu o velho campista, no instante que retirou o enorme, mas que moldava perfeitamente sua cabeça, elmo prateado. – Espero uma recompensa da Imperatriz por estes. Um deles, o jovenzinho ousado, escapou de um espírito condenado, dias atrás. Agora, esta mulher vagabunda, ao lado dele, não é de grande utilidade.

Mal acabara de ouvir e a senhora morena viu-se apalpada pelos dois garotos. Porém, quando estavam prestes a despi-la, foram interrompidos, rigorosamente, pelo pai:

— Chega! Cruel foi o destino, por colocá-los na minha vida. Filhos inúteis! Levem o bebê para a sala da Imperatriz Jadis, a última que viverá! A própria adora crianças. Ela terá um sorriso no rosto de prazer, assim que voltar da expedição com os militares do Leste... Ela decidirá o óbito deste recém-nascido. 

Os meninos o fizeram. A cada passo que completavam, a senhorita e mãe dispensava uma lágrima. No entanto, o choro era moderado, pois a mãe sempre soube o futuro terrível que lhe aguardava. Já Eli, completo de rancor e com maior sede de vingança, lamentava e, também, agradecia a si próprio pelos seus dezesseis anos de vida completos. A tristeza foi suspendida pelo maldito pai dos arruinados adolescentes. Ele, então, guiou o casal para a cela, na qual permaneceriam até a próxima “limpeza” - como os guardas apelidaram a levada de mortes.

“Imensamente sujo e apertado ao extremo.”, pensou Eli. E dominava a verdade: a cela possuía dois metros quadrados e cheirava muito mal. Havia somente uma cama, propositalmente, para gerar brigas entre os cativos. O chão dali, ao contrário do pátio, possuía um ou dois blocos de terra, o que possibilitava o enterramento das fezes, e, igualmente, trazia a gradativa probabilidade de doenças. Por último, havia um bloco de papéis, um graveto e tinta. Estes instrumentos tinham, como principal utilidade, a escrita prisioneira de devotos, arrependimentos e endeusamento à Jadis; palavras do atormentado realismo.



Deitado na única cama, o órfão encarava a mulher, sentada à beirada das barras, que por sua vez, tentava esquecer as maldades e tristezas que vivera. Subitamente, um indivíduo caricato que saiu das sombras, à esquerda da cela, sussurrou:

— Novos companheiros? Nesta cela terão a miséria das misérias. Não permitirei a utilização da cama... Tentem passar sobre mim, novatos... Estou intoxicada há dias. Querem compartilhar da minha infelicidade? 

Um vento gelado aproximava-se; tinha origem sudoeste. Enquanto algumas curiosas folhas secas e objetos de pouca utilidade originavam um discreto redemoinho no pequeno cubículo, a parda sequer direcionava olhares, ou tentava direcionar, ao ser misterioso: isolava a visão ao espelhar de dúzias de poças sangrentas, que reluziam na cabine enferrujada. Já o jovem, apreensivo e exausto, esteve próximo a uma resposta mista de fitadas intimidadoras, todavia, o ser misterioso continuou:

— Meu nome é Lenir Kirke. Que diabos são vocês?
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NOTA: A história tem como base a crônica "The Magician's Nephew" do escritor C.S.Lewis; nesta, o mundo Charn é citado.

Idealizado por Rodrigo Carvalho;
Escrito por Luis Henrique;



Enfim todos poderão ter "As Crônicas de Charn: Apocalipse" em mãos. Próximo ao término das postagens de capítulos aqui, no Skandar Keynes BR, será publicado o livro desta renomada história. Aguardem novidades.


Todos os direitos reservados: Luis Henrique e Rodrigo Carvalho.
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