2013/03/07

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As Crônicas de Charn [Cap.X]

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Classificação indicativa: Não recomendando para menores de 16 anos.
As Crônicas de Charn Apocalipse:
— Sorria, desgraçado! [Capítulo X]

Num choque de duas ou mais peças de armaduras reluzentes, Eli se viu cercado e impedido por meia dúzia de guardas avantajados; um avançou e tapou-lhe a boca com mãos ásperas e pesadas. Acontecera que o menino chamara atenção dos enfileirados e do próprio “cabeleireiro penado”, - um homem baixo, mulato e de cabelos ruivos sebosos; aparentemente cego, mas de timbre aguçado; um individuo possivelmente rotulado de doentio, levando em conta suas faces ambiciosas pela desgraça e arrebatamento dos sentimentos dos ali presentes. - acarretando em movimentações rápidas, porém cautelosas, das sentinelas, que em instantes alcançaram a posse da situação; ou parte dela.

À frente, mais à frente do que se possa descrever, a luz de pequenos e quase invisíveis lampiões segurados por empregados de capuzes negros, refletiam o rosto repugnante e deformado do ruivo atormentado, que desempenhava seu trabalho com perfeição; às vezes, cuspia singelamente sobre a navalha para facilitar o corte, eliminando o melaço rubro. Era impossível permanecer com batimentos cardíacos medianos quando se avistava o relance de sua venda escarlate, que cobria ambos seus olhos desolados pela cegueira. 


Naquelas situações não havia o que sentir, sonhar ou relembrar. A frieza e nulidade do local gracejavam todas as mentes e suas orações. O menino, penúltimo da fileira através de rigorosos solavancos, expandia sua visão mais a diante, na tentativa de captar algo útil a uma, pouco executável, escapatória. Por outro lado, a senhora morena, que perdera o filho aos desejos prazerosos da Imperatriz Jadis, permanecia quieta e de cabeça baixa atrás do jovem: “Ó protetor de Charn, conceda a mim e meu tesouro o direito de sono eterno. Não aguento, não aguento. Conceda-me a morte de uma vez por todas.” A súplica mental cabriolava e escoava perante uma prepotente parede de opressão. 


Alguns minutos partiam e tudo que se ouvia eram os piedosos berros, seguidos de insanas gargalhadas. De repente, todos notaram uma agitação, interrompendo choros e concentrações. O homem baixo e sem poder de visualização levantou-se, deselegantemente, e com passos longos aproximou-se da última quinzena de prisioneiros. Passando por cada um, deslizando (circularmente) a parte lateral da navalha sangrenta em suas, respectivas, bochechas, ameaçou: 



— Quem será o próximo a ter o “D”, o “O”... Quem será o próximo a ter a sensação magnífica de falecer mentalmente? Vamos ver... Esse... Você! Você! Que bochechas macias! Cabelos lisos! Você! Você! – exclamou desesperadamente em pulos, com um irônico sorriso no rosto e apalpando a face de Eli. – Sinto que não é um adulto. Adoro deliciar-me com jovens! Guardas! Peguem este e o levem. Lá, o obriguem a ajoelhar-se... E principalmente: o façam “colocar” um sorriso nesse rosto podre! Agora! 


Subitamente, um trio de marmanjos agarrou o pobre rapaz, que se debatia em vão. Centenas de coisas rodeavam a sua percepção, mas nada o fazia criar coragem e energia como a lembrança e crença de que tais mentes e braços impiedosos haviam, uniformemente, punido e cedido a tal e tamanha angústia às seus pais. Cada passo que completava, a chutes, parecia de maior e maior lentidão, no entanto, já era certo: a partir dali, nada seria como antes. Ele percorrera caminhos desafiadores, fugira de um perigo e acabava por encontrar outro; jamais imaginara tamanha dor daquela base. A nua realidade se tornou demasiadamente vagarosa e ausente de sentido ao jovem, entretanto para os guardas, fora o tempo de um rápido vulto, tratava-se de um diário serviço que, inexplicavelmente, não asfixiava suas respectivas consciências, almas.



No momento que foi jogado cruelmente ao chão de pedra, abriu os olhos: estava em uma planície elevada. Horizontalmente, à sua frente, notou, como um borrão, inúmeras pessoas. À sua esquerda, todavia, havia um pequeno assento rochoso, provavelmente para o tal maluco que vinha ao seu encontro, em intimidações. Já à direita, brilhava e atraia atenções algo espantoso. Tratava-se de um enorme e velho espelho retangular, de reflexo bem ofuscado, devido a respingos de sangue seco e um pouco de saliva.



“Sabe qual é a chave da anarquia, garoto? O medo. Ó, doce, inocente e hilário medo.”

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NOTA: A história tem como base a crônica "The Magician's Nephew" do escritor C.S.Lewis; nesta, o mundo Charn é citado.

Idealizado por Rodrigo Carvalho;
Escrito por Luis Henrique;


Enfim todos poderão ter "As Crônicas de Charn: Apocalipse" em mãos. Próximo ao término das postagens de capítulos aqui, no Skandar Keynes BR, será publicado o livro desta renomada história. Aguardem novidades.

Todos os direitos reservados: Luis Henrique e Rodrigo Carvalho.
Qualquer tentativa de plágio do conteúdo, acarretará a rigorosas punições aos valores autorais.

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